terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Tecnologia argentina para exportación

A hincha do Boca Juniors está para as torcidas de futebol como Harvard para o mundo acadêmico, afirmou em 2006 o chefe da principal barra boquense. E com isso a Argentina, que já viveu tempos melhores, está criando divisas em dólares com um novo serviço especializado voltado ao mercado externo: consultoria para transferência de tecnologia organizacional para torcidas de futebol.

Isso inclui cantos, táticas de brigas, métodos de extorsão de dirigentes e jogadores, recomendações para superfaturamento do preço de ingressos e dicas para a cobrança de propinas de ambulantes das proximidades dos estádios.

¿Bueno, eh?

Segundo reportagem do diário bonaerense Olé, os contratantes mais bem sucedidos até então tinham sido do Pumas, do Tigres e do América, no México, e das equipes de Cali, na Colômbia. Sabe-se também dos efeitos dos trabalhos dos argentinos em outros países da América Central – todos estes lugares que, invariavelmente, observaram um surto de crescimento no número e na brutalidade de episódios de violência no futebol nos últimos anos, em que o entusiasta do esporte vem perdendo lugar para o fanático sectarista nas arquibancadas.

Mas não é só a consultoria in-house que está gerando receitas: os hinchas-expert do Boca têm recebido em Buenos Aires interessados de ultras do mundo inteiro. A Espanha desponta como o melhor mercado mas todo o mundo hispanófono se interessa, do Chile ao México.

Interessante observar o lado mundanamente feio de algo cercado de tanta mística e valor cultural. Mesmo assim a insípida descrição do business case, embora adequada, é insuficiente.

O escritor uruguaio Eduardo Galeano disse bonito e as torcidas do Flamengo e do Corinthians (digamos, do Boca e do River) inteiras sabem que não é correto atribuir a violência ao futebol; ela não vem do futebol, aparece no futebol. Na Grande Buenos Aires não é diferente e nestes países e lugares receptores de cultura por dizer tradicional de futebol também não. Novidade é o movimento no sentido da globalização do saber acumulado cultural local, agora transformado em pacote e mercantilizado ao sabor do freguês, nesse fenômeno que vem despontando a partir de várias torcidas transplatinas.

Daí que não cabe atribuir o selo “hecho en Argentina” ao surto recente de pancadaria no futebol latino-americano tanto quanto reconhecer que tudo o que ganhasse espaço em termos de cultura futebolística no mundo hispanófono – e mesmo fora dele – teria um dedo do modo de ser argentino. Esse torcer é a quintessência da experiência do entusiasta, é o apoio à equipe na sua forma mais dramaticamente eficaz. E o Boca é a corporificação máxima deste espírito, materializado no ar que paira La Boca, em sua disposição urbana e na arquitetura do estádio, e transformado em som e vibração, em pressão tangível, pela hinchada que canta bem e sem parar.

A verdade é que o Boca Juniors e o futebol argentino exercem uma influência muito maior no jeito de torcer mundo afora do que aquela sistematizada por seus mestres remunerados – papel que já coube ao Brasil, um assunto a que voltaremos futuramente. Buenos Aires reuniu condições propícias para o florescimento de uma rica cultura de torcidas organizadas, das quais a mais importante possivelmente é o fato de o conurbado bonaerense ter a maior “densidade futebolístico-espacial” do mundo. O papel da familiaridade lingüística com o restante da América Latina nesse processo também não pode ser desprezado.

Verdade é que o próprio Brasil sente essa energia. A geral do Grêmio, a mais castelhana das torcidas brasileiras, é a banda louca que corre os torcedores do Internacional, bebe vinho e fica borracha, canta músicas diretamente traduzidas das barras do boca como os típicos “dale-ôs” do original dale bo do Boca, e comemora gols com avalanchas. Quem já viu essa torcida sabe que o Grêmio tem a maior vantagem de jogar em casa do Brasil. Pressão pura.

Os “dale-ôs”, diga-se, estão cada vez mais comuns em cada vez mais torcidas pelo país, incluindo pelo menos a do Corinthians, argentinófila desde Carlitos.

Indepentemente da (má) influência que os líderes barrabravas argentinos venham exercendo mundo afora, é certo que se no mundo ideal os goleiros são alemães, os zagueiros italianos e os meio-campistas e atacantes brasileiros, no mundo ideal a torcida – como o churrasco após o jogo – vem da Argentina.

7 comentários:

Anônimo disse...

As torcidas arentinas são mesmo um espetaculo. Inclusive em jogos da selelção.

No Brasil, até temos torcidas espetaculares, como Corinthians, Flameno, Galo....

Mas a torcida para nossa seleção sempre envergonha...

Tiago Marconi disse...

Tive informações, lá em Buenos Aires, de que as hinchadas prestam serviços de fura-greve também! Violência aplicada se tornou um nicho de negócios mesmo...

Abraço, Zé!

Anônimo disse...

Até ai tudo bem.

Mas as táticas de briga das inchadas portenhas não são mais evoluidas do que as das organizadas brasileiras, não.

a emboscada W-W, criada pela galoucura na famosa depredação dos ônibus da Jovem-Flá, é de longe uma das táticas de guerrilha mais bem sucedidas da história da violência nas arquibancadas.

Pra argentino ter inveja...

Anônimo disse...

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