sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Série Grandes Craques Boêmios da História – Edição de Carnaval

Caro folião,

Enquanto outros países se perguntam como a oitava economia do mundo se dá ao luxo de cinco dias ininterruptos de festa, nós brasileiros não perguntamos nada (principalmente porquês, idades ou telefones) até a quarta-feira de cinzas, quando somos tomados por uma ressaca física e moral.

Confesso que, embriagado nessa orgia, pensei em homenagear o futebol tecendo elogios rasgados aos craques foliões, que pulam carnaval e faltam ao treino apenas porque amam a folia. Poderia falar do irreverente Viola, que já desfilou em mais de vinte agremiações carnavalescas de São Paulo, sem esconder sua preferência pela escola rosácea da Vila Brasilândia. Ou então do gogó-de-ouro Paulinho Mocidade, que antes de puxar sambas inesquecíveis da Mocidade Independente de Padre Miguel atormentava os zagueiros adversários ali pertinho, vestindo a 11 do Bangu no Moça Bonita.

Mas estas são histórias que contarei em um outro momento. Hoje, não mais contagiado pelo espírito carnavalesco nacionalista - que à luz do amor nos faz acreditar que não existe melhor lugar que o Brasil -, prefiro relaxar a soberba e admitir que, assim como nós, outros países cristãos possuem belos carnavais e craques foliões, que também merecem entrar nessa lista.

Deve encerrar a carreira neste ano Russel Nigel Latapy, que nasceu em 2 de agosto de 68 em Lattaville, Port of Spain.

Para quem não o conhece, trata-se de uma das personalidades mais famosas de Trinidad e Tobago, aprazível país caribenho banhado por águas azuis translúcidas, onde a cerveja é barata e o cricket o mais popular dos esportes.

Aos 10 anos, Russel foi descoberto jogando nas praias do sul de Tobago e, desde então, chama a atenção por onde passa. Aos 18, já uma promessa, rejeitou um convite da Universidade da Flórida e foi para o Clube do Porto, onde começou sua peregrinação por times pequenos e médios da Escócia e de Portugal.

Sua vocação para a boemia se manifestou ainda na adolescência, quando freqüentava os bares de socca (ritmo local que inspirou o apelido da seleção nacional, os Socca Warriors) da orla de Port of Spain.

Assim o jovem Latapy, que demonstrava incontestável talento tanto para a música com
o para o futebol, logo se maravilhou com a efervescente noite européia. Já nos primeiros anos de Porto passou a ser conhecido pelas freqüentes noitadas, pela companhia de belas mulheres e pelos cabelos sempre estilosos. Em campo, porém, apesar das boas atuações, o craque ficou marcado por perder um pênalti contra a Sampdoria, que tirou o time português do torneio europeu.

Ao se desligar do Clube do Porto, Latapy ainda ficou alguns bons anos na terrinha, sem se destacar em nenhum clube importante. Mas se as portas da terra de Camões estavam fechadas, a Escócia recebeu Russel de braços abertos – o jogador foi a grande aposta do Hibernnian para a temporada de 1998.

Por lá, “The Litlle Magician” (carinhoso apelido de Latapy, também conhecido co
mo “Lata”) é famoso por ter protagonizado o maior escândalo da história do modesto clube, que jamais saiu em tablóide nenhum por causa de conquistas.
Numa fatídica madrugada, Russel foi preso por colidir seu carro contra uma propriedade do estado, supostamente alcoolizado, junto de um amigo de infância (Dwight Yorke, então craque do Manchester United) e de duas mulheres seminuas, uma delas casada. O caso, cheio de versões fantasiosas que circulam pela internet, repercutiu negativamente na carreira de Latapy. Fontes anônimas chegaram a afirmam que, ainda sob efeito do álcool e indagado sobre a presença de uma mulher casada no veículo, Russel respondeu desconhecer o fato de uma delas ser uma menor de idade.
Balelas sencacionalistas, que nunca foram provadas.

O fato é que, injustiçado e machucado pelas críticas pesadas, Russel ainda teve algumas fracas passagens por outros pequenos times da Liga Escocesa, antes de se retirar dos gramados e abrir uma simpática barraca de praia na Ilha da Madeira, em Portugal. E Lata teria ficado por lá, curtindo a vida e relembrando com nostalgia seus mais belos gols e dribles, se o destino não reservasse grandes planos.

Convencido por amigos, ele volta aos campos e também à seleção, pela qual tinha tido uma boa participação em 1990 - os Socca Warriors ficaram de fora daquela Copa por um empate. Aos 38 anos, fumante inveterado – sempre disse que fumava um maço de cigarros por dia sem que isso lhe prejudicasse o rendimento - e longe de suas condições ideais, Russel Latapy vestiu a camisa 10 e jogou por 23 minutos na partida contra o Paraguai, durante a Copa do Mundo da Alemanha, em 2006.


Na volta ao seu país, foi homenageado no Estádio Nacional de Hasely Crawford. E após duas voltas em torno do gramado que o revelou ao mundo Russel, ofegante, foi aplaudido de pé por mais de vinte mil pessoas.

Por ser o primeiro cidadão de Trinidad e Tobago a jogar nas ligas européias – traçando um caminho depois percorrido pelo muito mais bem sucedido Dwight Yorke – Latapy tem considerável fama e goza de inúmeros privilégios em sua cidade natal, onde fundou recentemente a Russel Latapy Secondary School, apenas para crianças carentes de Port of Spain.

Para se ter uma idéia de seu prestígio pelas ruas da capital, uma conhecida piada diz que, ao chegar ao céu, um padre muito popular começou a ser apresentado às grandes personalidades locais falecidas (você não conhece nenhuma), até o momento em que encontrou Russel Latapy. Confuso, o recém-chegado mandou chamar São Pedro e afirmou:

- Mas Latapy ainda está vivo!

São Pedro, com um triunfante sorriso de canto, chamou-lhe ao canto e disse:

- Bahhh! Aquele é apenas Deus, fingindo ser Latapy.

5 comentários:

Anônimo disse...

Russel Latapy... Nunca jogou ^*&^ nenhuma, mas ora, é um "jogador de copa do mundo"!

Boa escolha!

Anônimo disse...

mentira, vc nao viu ele jogar...

jogava demais o garoto...

se não, escreveria sobre outro crque.

Anônimo disse...

Boa cronica.

Você pelo jeito curte os undergroundsemibemsucedidosrebeldes
Teria sido um fim glorioso se ele se tornasse músico...

Bem escrito...

Anônimo disse...

Boa cronica.

Você pelo jeito curte os undergroundsemibemsucedidosrebeldes
Teria sido um fim glorioso se ele se tornasse músico...

Bem escrito...

Anônimo disse...

Zagueiros,
Gostei pacas, principalmente do nome do blog, uma homenagem explicita ou freudiana ao glorioso tricolor morumbicha. 19 goles no brasileiro só com uma bendita e cronica retranca!
Fran, afinal acho que ficou algo de bom da x q te levei ao Templo.
Saudações
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