De última hora, no entanto, recebi um e-mail comovente de um amigo de longa data, o Diogo Menezes, barman existencialista e filósofo habilidoso, que publico na íntegra, mais pela pertinência e atualidade do tema “taça das bolinhas” e por apreço a seu relato pessoal do que por concordar com ele. Curiosa é a presença insistente de Mauro Silva nos textos, nos marcando de perto...
“Caro Tiago,
Seu e-mail provocador a respeito do Corinthians x Guarani da última quinta me lembrou outros tempos, em que tanto eu como você tínhamos motivos para sorrir, em vez de nos provocar mútua e pateticamente desde as divisões inferiores do decadente futebol brasileiro.
Lembrei daquelas finais do Paulistão de 88, do gol inesquecível do Neto e do surgimento do Viola, que apareceu dando o título a vocês. De lembrança em lembr

Apesar da decepção com a roubalheira da final de 86 (disputada em 87), acompanhei o Bugre por todo o ano de 1987, no Paulista, na Libertadores (em que, de certa maneira, nos vingamos, vencendo o São Paulo aqui e empatando no Morumbi) e, enfim, no Brasileiro. Meu pai era fanático e íamos a rigorosamente todo jogo no Brinco.

Eu, porém, sabia que não existia apenas o Guarani e, já como hoje, era um admirador do futebol. Quando os compromissos com meu time permitiam, assistia na TV aos jogos dos outros. Era impossível não se entusiasmar com o time de Renato Gaúcho, Bebeto, Jorginho e, ele, Zico. Ele, que desperdiçara o pênalti do jogo na Copa anterior, e voltara a desfilar sua classe pelos gramados brasileiros.
Quando, ainda no início de dezembro, o juiz apitou o fim do de Guarani 1x0 Atlético Paranaense, depois de mais de 80 minutos de sofrimento, eu explodi de alegria e torci muito para que o Flamengo entrasse no quadrangular. Classificados Flamengo e Inter no módulo Amarelo, sempre com a cabeça no quadrangular, acompanhei na TV a histórica disputa de pênaltis com o Sport (11x11!!!) e esfreguei minhas mãos em júbilo esperando o dia em que meu Guarani mediria forças com o Flamengo de Zico, que no mesmo momento despachava o Inter, sagrando-se campeão do Módulo Amarelo.

No dia seguinte (eu não falava em outra coisa), meu pai, preocupado, veio contar-me que o Flamengo e o Internacional haviam abandonado a disputa e o Flamengo já se considerava campeão brasileiro e quadrangular seria reduzido a um jogo de ida e outro de volta com o Sport. “Como pode haver um campeão sem ter enfrentado o time mais forte?” – pensava eu. Era a segunda final que nos roubavam – e desta vez nem nos deixaram jogar! Fiquei com raiva do futebol e virei o ano pensando em outras coisas. Passadas poucas semanas, já era um torcedor de novo, jogava minha bola e freqüentava meu clube do coração.
No domigo 24 de janeiro de 1988, lembro de acordar cedo com a idéia fixa de ver o jogo com o Flamengo. No fim da manhã, toda a família foi para o clube. Perto das 17h, enquanto todos estavam na beira da piscina, já bem cansados, fui sozinho até o estádio tristemente vazio, fechei os olhos, ouvi a torcida bugrina cantar forte e vi o Guarani enfiar 2 a 0, um de João Paulo e outro de Evair, no covarde time do Flamengo. Zico, além de perder um pênalti,

Grande abraço,
Diogo”
5 comentários:
Comovente, os bugrinos de todo o Brasil irão chorar ao ler este depoimento do Menezes.
Muito touching. Gosto estilo crônica
Por falar nisso, Chico Garcia bem que podia tecer uma crônica sobre o hino de guerra da torcida corintiana. Ele, com seu jeito poético irônico, poderia tirar dali uma crônica e tanto...
Fica a sugestão...
Em tempo...
É o grito de guerra que andam cantando nos jogos e não o HHHIIINNOOO do Corinthians.
bugre roubado!!!!!
vergonha nacional o penta rubro-negro
Caberia ainda mais um comentário acerca da talvez última grande contribuição bugrina para o futebol mundial. Não, não se trata de Djalminha, muito menos de Amoroso ou Luizão...
O que o comentário ao post não revela é que Mauro Silva nunca jogou de fato pelo Guarani de Campinas.
Relembrando agora, vejo que foi exatamente no fim de 1987 que surgiu pelas bandas de Bragança Paulista - "a capital do Sul de Minas", "a terra da lingüiça" - um zagueirão grosso e estiloso de nome Vítor Hugo.
Dono de admirável capacidade de entregar o ouro para o adversário, logo despertou ferrenha disputa entre os "scratches" campineiros...vá entender?
O caso é que o glorioso Alvinegro da Pedras, o Leão das Alterosas, o mais temido do interior, enfim cedeu ao negócio irrecusável proposto pelo Bugre: era o Vítor Hugo por 5, mais a grana do busão.
Estava montado o esquadrão mais forte do início dos anos 1990...do time campeão paulista e brasileiro vão em maiúsculas os que foram envolvidos na troca: Marcelo, GIL BAIANO, NEI, JÚNIOR e JOÃO BATISTA; MAURO SILVA, Ivair e João Santos; Mazinho, Mário e Tiba.
Detalhe que dessa defesa, que garantiu ao baixinho e frangueiro goleiro Marcelo o bi-campeonato da Bola de Prata, só mesmo o limitado J.B., depois substituído pelo Biro-Biro (o "nosso"), é que não foi convocado para a seleção...enfim, valeu Bugre, isso é que é visão!!!
Abraços!
MASSA BRUTA: O MAIOR DO INTERIOR...e dá-lhe Braga!!
Postar um comentário