para o mundo acadêmico, afirmou em 2006 o chefe da principal barra boquense. E com isso a Argentina, que já viveu tempos melhores, está criando divisas em dólares com um novo serviço especializado voltado ao mercado externo: consultoria para transferência de tecnologia organizacional para torcidas de futebol.Isso inclui cantos, táticas de brigas, métodos de extorsão de dirigentes e jogadores, recomendações para superfaturamento do preço de ingressos e dicas para a cobrança de propinas de ambulantes das proximidades dos estádios.
¿Bueno, eh?
Segundo reportagem do diário bonaerense Olé, os contratantes mais b
em sucedidos até então tinham sido do Pumas, do Tigres e do América, no México, e das equipes de Cali, na Colômbia. Sabe-se também dos efeitos dos trabalhos dos argentinos em outros países da América Central – todos estes lugares que, invariavelmente, observaram um surto de crescimento no número e na brutalidade de episódios de violência no futebol nos últimos anos, em que o entusiasta do esporte vem perdendo lugar para o fanático sectarista nas arquibancadas.Mas não é só a consultoria in-house que está gerando receitas: os hinchas-expert do Boca têm recebido em Buenos Aires interessados de ultras do mundo inteiro. A Espanha desponta como o melhor mercado mas todo o mundo hispanófono se interessa, do Chile ao México.
Interessante observar o lado mundanamente feio de algo cercado de tanta mística e valor cultural. Mesmo assim a insípida descrição do business case, embora adequada, é insuficiente.
O escritor uruguaio Eduardo Galeano disse bonito e as torcidas do Flamengo e do Corinthians (digamos, do Boca e do River) inteiras sabem que não é correto atribuir a violência ao futebol; ela não vem do futebol, aparece no futebol. Na Grande Buenos Aires não é diferente e nestes países e lugares receptores de cultura por dizer tradicional de futebol também não. Novidade é o movimento no sentido da globalização do saber acumulado cultural local, agora transformado em pacote e mercantilizado ao sabor do freguês, nesse fenômeno que vem despontando a partir de várias torcidas transplatinas.
Daí que não cabe atribuir o selo “hecho en Argentina” ao surto recen
te de pancadaria no futebol latino-americano tanto quanto reconhecer que tudo o que ganhasse espaço em termos de cultura futebolística no mundo hispanófono – e mesmo fora dele – teria um dedo do modo de ser argentino. Esse torcer é a quintessência da experiência do entusiasta, é o apoio à equipe na sua forma mais dramaticamente eficaz. E o Boca é a corporificação máxima deste espírito, materializado no ar que paira La Boca, em sua disposição urbana e na arquitetura do estádio, e transformado em som e vibração, em pressão tangível, pela hinchada que canta bem e sem parar.A verdade é que o Boca Juniors e o futebol argentino exercem uma influência muito maior no jeito de torcer mundo afora do que aquela sistematizada por seus mestres remunerados – papel que já coube ao Brasil, um assunto a que voltaremos futuramente. Buenos Aires reuniu condições propícias para o florescimento de uma rica cultura de torcidas organizadas, das quais a mais importante possivelmente é o fato de o conurbado bonaerense ter a maior “densidade futebolístico-espacial” do mundo. O papel da familiaridade lingüística com o restante da América Latina nesse processo também não pode ser desprezado.
Verdade é que o próprio Brasil sente essa energia. A geral do Grêmio, a mais castelhan
a das torcidas brasileiras, é a banda louca que corre os torcedores do Internacional, bebe vinho e fica borracha, canta músicas diretamente traduzidas das barras do boca como os típicos “dale-ôs” do original dale bo do Boca, e comemora gols com avalanchas. Quem já viu essa torcida sabe que o Grêmio tem a maior vantagem de jogar em casa do Brasil. Pressão pura.Os “dale-ôs”, diga-se, estão cada vez mais comuns em cada vez mais torcidas pelo país, incluindo pelo menos a do Corinthians, argentinófila desde Carlitos.
Indepentemente da (má) influência que os líderes barrabravas argentinos venham exercendo mundo afora, é certo que se no mundo ideal os goleiros são alemães, os zagueiros italianos e os meio-campistas e atacantes brasileiros, no mundo ideal a torcida – como o churrasco após o jogo – vem da Argentina.
Já viajei bastante por esse mundaréu chamado Brasil e sempre fui bem acolhido.







na época ainda não era líbero, mas sim um cão de guarda) posicionado logo à frente do goleiro, com os outros quatro avançados formando uma segunda linha, responsável pelo primeiro combate. 
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