segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Lado B do Rey das Copas

* Por Chico Garcia

Dizem por ai que eu minto, mas tudo o que vejo eu conto sem recauchutar. Não vou nem barganhar crédito seu, pois nesse mundo não há bicho que se faça solto e desconheça que catimba argentina é a pior que existe. Então vou contar um fato estranho que comigo se assucedeu, aí quem quiser que acredite.

Vagava por Buenos Aires e, num imprevisto do azar, tive entreveros com os homens da lei. Não foi minha culpa, sabe como é, quando joga fora de casa tem gente que atrai polícia igual carniça atrai urubu.

Só escapei e dei no pé por que fui ajudado por um malandro da pesada, cheio das artimanhas, que facilmente despistou os meganhas e com toda certeza o sinistro tinha laços com o belzebu.


Agradeci pagando umas cervejas, como faz um sujeito decente, e o malvado retribuiu com um papo beleza. Acendeu um Marlboro e enquanto dava uns tragos contou que era chefe da Torcida do Independiente, lá de Avellaneda, onde era conhecido apenas como El Diablo.

Logo desafiei as memórias daquele filho do cão sobre a equipe indigesta dos Rojos, que reinou e fez história na América. E de quebra e de graça, o parceiro El Diablo garantiu saber toda a verdade sobre esse temido esquadrão.

Ficará eternamente escrito que aquele era um scratch de raça e talentos, sendo que pelos anos de setenta e poucos não havia louco em decente estado de sobriedade que quisesse enfrentar o Independiente, o time mais encrenqueiro de todos os tempos.

Diz-se por lá que todo time começa por um grande canalha, e o goleiro Santoro entrava em campo com uma navalha escondida na meia e guardando areia no calção. Ai quando vinha o atacante na área... Terra no olho, malandro!

A zaga era mais malvada que escolta de bandido valente. Tinha um sujeito chamado Comisso que era tão feio que fazia carro dar meia volta e gente desistir de atravessar a rua. Quando o tal do Comisso fazia cara de bravo, dos avantes medrosos só se ouvia "vai que é sua, vai que é sua".

Já um outro cabra, um uruguaio chamado Pavoni, quando nasceu dava tanto coice no berço que quase matou a avó de susto. E o sujeito era tão, mas tão mau, que quando foi batizado o padre até deixou cair o terço, de tanto medo daquele filho da noite.

El Diablo me contou, mas não sei se procede, que quando os Rojos foram campeões do mundo Pavoni e Comisso escaparam de desfalcar o time por um triz. Isso por que num jogo no campo do Boca, caiu a luz por um segundo e os bandidos não deram toca: Sumiu até o relógio suiço do juiz.

Só não pegaram ninguém no pulo porque bandido mau também tem cobertura, ta ligado? Quando a defesa entrava em apuros podia contar com El Zurdo López, um lateral invocado que ouvia mal, mas era malícia pura. O tal esperto tinha um nariz maior que tromba de elefante e dizem que abandonou a bandidagem por pura preguiça, pois gostava de viver igual tatu, na maior sombra.

O gatuno da esquerda, que já veio ao mundo de bigode, não se sabe como pode tinha mais de dez identidades. Ficou conhecido como Raiomondo, mas vá saber a verdade. O que se sabe é que o sujeito tinha fama de boa praça e levava a vida no ócio, e para botar comida na mesa ou cerveja cerveja no copo agia como mestre da trapaça, arte de enganar o próximo.

Cheia de manhas e não menos milongas, a quadrilha da meia cancha ficou famosa no gueto de Avellaneda por reunir todas as destrezas de um gato preto.

El Negro Galván e Mago Maglioni fingiam ter a inocência de uma virgem donzela, sempre iludindo o juiz naquela do juro que não faço mais. Ai quando o mané virava de costa era só fair-play pra baixo da canela, como bom argentino, versado em malvadeza. Até hoje os dois fazem o Mirandinha sofrer dormindo de luz acesa, assustado igual frango solto em supermercado.


De volante, ou meio zagueiro, como diz meu chegado Hermano Penna, quem entrava em cena e tomava conta do jogo era o milongueiro mais conhecido da boemia portenha, o finado Jose Omar Pastoriza. El Pato não participou do titulo mundial, mas já virou até verbete de dicionário, ganhou licença de professor e por décadas ministrou aulas de catimba na Universidade de Rosário, onde é reconhecido como o inventor da cera.

Agora, se o jogo fosse difícil mesmo, ou se o juiz estivesse com qualquer sacanagem, aí o lance era com o Manoel Sá, sujeito matreiro que não dava pontapé e ainda assim se tornou o maior campeão da história do clube. O que foi o que não é, só se sabe que o primo do Manoel era um tal de Obregon, afamado pelas curriolas de Santa Fé como El Covero. Nunca foi provado, mas corre pelos labirintos da justiça um processo que acusa o tal cruel de dar cabo em um ponta direita entortador de coluna, que era uma pedra no sapato do Gago Manoel.

E pra completar esse covil de ladrão, aquele bando também tinha seus cabeças, os grandões da parada. Ali quem mandava e desmandava sem perdão eram Bochini e Bertoni, que conquistaram o povo com os gols e belas jogadas, mas atuavam mesmo como os chefões do crime.

No gol do titulo Mundial de 1973, se diz à boca pequena que Bochini revelou aos amigos ter entrado em campo com um alfinete de costura escondido, com o qual espetou o baço do zagueiro italiano com tamanha fúria que este, totalmente perdido, só assistiu Bocha fazer o gol do campeonato.


Assim-assim com o Caveira de Medelin e o time do Metralha, lá do Morro do Alemão, esse foi o bando mais criminoso que já bateu uma pelada, a turma mais malvada que já fez parte de um time de futebol. E usando das milongas e mumunhas, comandada por hermanos versados nas mais diferentes artes da catimba, uma malandragem portenha do mais alto grau fez do Independiente de Avellaneda o maior campeão da América.

E é isso aí. Quem for à Buenos Aires em breve poderá pagar umas Quilmes ao meu chegado El Diablo e certamente ele ajudará qualquer um com os fardados no encalço, afim de um bom rapé ou necessitando trocar dinheiro falso, pois conhece tudo sobre o submundo da cidade. Como um bom jogador de conversa fora, gosto de enfeitar a jogada e até aumento a história, mas nunca minto e digo que tudo que invento é baseado em pura verdade.

* Em sua era "dourada", o Independiente de Avellaneda faturou os Metropolitanos de 1971 e 72, quatro Libertadores da América entre 71 e 74 e mais o Mundial de 1973.

**Entre feitos e glórias, estão os três gols marcados por Maglioni em apenas 90 segundos em partida do Metropolitano de 1973, marca registrada no livro dos recordes.

*** Embora algumas das informações aqui contidas sejam fruto dos conhecimentos singulares de meu parceiro El Diablo, a fama de time mau procede e ajudou a criar a mistica da catimba no futebol portenho.

5 comentários:

Zé Pedro Fittipaldi disse...

VC ESQUECEU DO GOLEIRO GAY! Digo, Carlos Gay, que pegou um pênalti do Bambi na Libertadores de 1974!

Chico Garcia disse...

só reitereando ele jogou só a final da libertadores de 74 como titular...

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